Com o aumento do número de acidentes de
trânsito no Brasil nos últimos anos — resultado de uma combinação explosiva de
infraestrutura viária precária e saturada, falta de preparo dos novos condutores
e, claro, irresponsabilidade de motoristas — a fiscalização eletrônica se
tornou um recurso fácil (e rentável) de monitorar as ruas, estradas e avenidas
de todo o Brasil. Mas você já se perguntou como eles funcionam?
Eles têm nomes diversos, dependendo do
lugar: pardal, radar, caetano, caça-níqueis e afins. Mas a verdade é que muita
gente chama os fiscalizadores de velocidade de radares de uma forma
indiscriminada. Radares são só os sistemas móveis, como as pistolas e os equipamentos
colocados em tripés à beira da pista ou nas viaturas. Os sistemas fixos não
usam radar, e sim sensores eletromagnéticos instalados na pista. A seguir,
explicamos como eles funcionam.
Radares móveis
Diferentemente do que muita gente imagina,
“radar” também não é o nome do equipamento e sim da tecnologia que o aparelho
usa. Radar é a sigla em inglês para “Radio Detection And Ranging”, algo como
“detecção e variação (de distância) por rádio”. Os radares tipo pistola usam o
efeito Doppler para fazer essa detecção – se você faltou nas aulas de física, o
efeito Doppler é aquele “deforma” as ondas emitidas ou refletidas por um
corpo em movimento. Quando ele se aproxima do observador, a frequência aumenta,
e quando ele se afasta, ela diminui. Já reparou como a buzina do caminhão tem
uma variação tonal quando ele passa em alta velocidade por você? É exatamente
isso.
Para medir a velocidade usando o efeito
Doppler, o radar tipo pistola usa um transmissor e um receptor de ondas de
rádio. Ao ser acionado, ele emite o sinal em direção ao veículo. Ao “atingir” o
carro, o sinal é refletido com frequência alterada e
capturado pelo receptor da pistola. A partir desta diferença da
frequência enviada para a frequência recebida é possível calcular a
velocidade do carro. A pistola é equipada com um sensor fotográfico que é
ativado de acordo com a programação da velocidade máxima. Caso a velocidade
medida seja superior ao limite programado, a câmera é disparada e fotografa o
infrator. Para funcionar corretamente, o radar tipo pistola precisa estar
imóvel, ou medirá somente o diferencial de velocidade entre o aparelho e o
objeto-alvo. Ele também só funciona se estiver apontado para o seu carro, ou
seja: só monitora um carro por vez.
Outro tipo de radar “móvel” é aquele montado
em tripés, geralmente próximo à viatura policial ou no acostamento. Apesar de
ter o mesmo nome, ele funciona com outro tipo de reflexão: o aparelho dispara
uma micro-onda em um ângulo de 20 graus em direção ao solo. Quando um carro
passa pela área coberta, o sinal é interrompido brevemente. Esse tempo de
interrupção é usado pelo aparelho para calcular a velocidade. Tal como a
pistola, se a velocidade medida for maior que o limite programado, a câmera
integrada ao aparelho dispara automaticamente e saca uma foto do carro. Embora
seja capaz de monitorar até três faixas de trânsito, ele só consegue fotografar
um carro por vez.
Agora, você deve ter ouvido falar de novos
radares que conseguem medir a velocidade a até 2,5 km de distância. Esse
equipamento não é exatamente um radar, e sim um LiDAR, que é um radar que usa
sinais luminosos, e não de rádio. O funcionamento é praticamente o mesmo,
substituindo ondas laser pelos sinais de rádio. O operador da pistola
dispara o laser, que ativa um cronômetro. Quando o sinal é refletido pelo
objeto e capturado pela pistola, ele desativa a contagem de tempo e calcula a
variação de distância naquele intervalo de tempo, que é exatamente o conceito
de velocidade. A principal vantagem do LiDAR é que os sinais são emitidos
com intervalos de 100 a 600 milissegundos, o que torna impossível driblar a
detecção freando o carro, por exemplo.
Detectores fixos
Sim, estamos chamando os “pardais” de
detectores, pois de radar eles não têm nada. Para capturar a velocidade ele usa
sensores eletromagnéticos e a interrupção do sinal para calcular a velocidade.
Já reparou que, perto de cada “pardal”,
existem riscos no asfalto? Esses recortes são os locais onde os sensores são
instalados. Há no mínimo dois, mas o padrão é haver três deles no piso. Os
sensores produzem um campo eletromagnético contínuo que é afetado quando um
carro passa por eles.
Ao passar pelo primeiro sensor, ele
emite um sinal para um computador cuja programação é baseada na distância
exata entre um sensor e os demais. Assim que as rodas passam pelo segundo
sensor, o programa mede o tempo que o carro levou para ir de um
sensor ao outro e com isso calcula a velocidade. O terceiro sensor serve
para confirmar a medição inicial e, caso esteja acima do limite, também dispara
a câmera integrada ao sistema. Ela fotografa o veículo e envia os à
central de trânsito por meio de um modem celular. As imagens são criptografadas
com data, hora, velocidade e local da infração.
As lombadas eletrônicas funcionam da mesma
forma, mas acrescentam ao sistema um painel numérico para exibir a velocidade
do carro. Outro tipo de fiscalização baseado em eletromagnetismo são os
sensores de avanço de sinal. Quando a luz vermelha está acesa, ela envia o
sinal elétrico para criar o campo magnético. Se um carro interromper o sinal, a
câmera dispara.
Agora, se você já passou por uma lombada
eletrônica e não teve sua velocidade registrada, isso provavelmente aconteceu
por que a velocidade calculada pelos primeiros sensores foi diferente da
velocidade calculada pelo último sensor — acontece quando você freia ou acelera
entre os sensores. Também é por isso que, muitas vezes, quem freia logo em
cima do radar consegue escapar do registro das infrações.
Por último, se você está se perguntando se
é possível driblar os sistemas de fiscalização eletrônica, bem… até é possível
e nós explicamos neste post. Só não pense que
será fácil.
Autores: GUSTAVO HENRIQUE RUFFO E LEONARDO CONTESINI